
Oficina de Arte Culinária
Cozinhar é um modo de se ligar ao mundo, pois conecta pessoas, conta histórias, mexe com memórias, balança os afetos, traz alegria, emociona. Quando colocamos os pés na cozinha do Brota, encontramos um grupo de jovens ligados, agitados, com uma fome muito diferente, que não era de comida, mas de atenção, de carinho, de desejos. É uma cozinha intensa, cheia de perguntas e de afirmações. Olhares que desafiam porque se mostram fortes demais ou porque se esquivam.
A cozinha quando é assim intensa se torna uma linguagem: tem seu vocabulário, a sua gramática, a sua sintaxe e a sua retórica, como bem disse Montanari6. No Brota, o vocabulário é extenso, começa com a narrativa do gosto por comer terra, não qualquer terra, mas aquela arrancada devagarzinho no tijolo da parede do quarto. A estranheza dessa fome gera empatia, os diferentes encontram seus pares e criam laços.
A fome que chega com os meninos no meio da tarde não é qualquer fome. É uma fome curiosa, vibrante; eles querem comer e querem aparecer. Eles querem também colocar a touca para proteger os cabelos, um avental para dar um sentido de ofício, as luvas para intermediar o tato, pois esses instrumentos, assim como a comida, formatam o cenário para narrar a vida e para mediar as relações.
Toda comida pode ser bonita, depende de como a gente a faz, e isso depende do nosso olhar para o alimento. Cada ingrediente, assim como cada prato, conta uma história: um menino lembra do macarrão que a vó faz, o outro do bolo da mãe, a outra do almoço que ela tem que fazer, todo dia, mesmo nem sabendo como fazer. A realidade desses meninos escreve a relação com o ato de cozinhar, e a cozinha expressa a história de cada um, sua identidade, seus sonhos, seu jeito de estar na família e no mundo.
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